Esculacho na Fiesp: Denunciados nas ruas os que bancaram golpistas
publicado em 10 de abril de 2014 às 12:31
Fiesp e banco Itaú são “esculachados” por “apoio à ditadura civil militar”
Por Tatiana Merlino, fotos e vídeo de Beatriz Macruz e Caio Castor
Avenida Paulista, 1313. Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No portão de entrada da sede da instituição, uma faixa: “A Fiesp financiou a ditadura civil militar”. Senhores e senhoras de idade encostam “pirulitos” com rostos de mortos e desaparecidos políticos da ditadura civil militar (1964-1985) na grade, jovens na faixa de vinte anos tocam instrumentos de percurssão e gritam palavras de ordem, como “A verdade é dura, a Fiesp apoiou a ditadura” e “Não esquecemos a ditadura, assassinatos e tortura!”.
Usando uma máscara de gorila, uma atriz segurava cartolinas com os nomes “Dr Geraldo” e “Olavo Setúbal”, em referência a Geraldo Resende de Mattos, ex-funcionário da Fiesp, e ao banqueiro Olavo Setúbal, que foi prefeito biônico de São Paulo, entre 1975 e 1979.
Apoio financeiro
Organizado pela Frente de Esculacho Popular, o “esculacho” denunciou a participação da Fiesp no financiamento ao golpe militar de 1964 e ao aparato de repressão a opositores do regime. O Banco Itaú, por sua vez, foi acusado de, além de ter apoiado a ditadura, distribuir uma agenda em que o dia 31 de março é chamado de “dia da Revolução de 1964”, como os defensores do regime se referem ao golpe militar. O ato reuniu cerca de 50 manifestantes, entre os quais jovens, ex-presos políticos, parentes de vítimas da ditadura e militantes de direitos humanos.
Rafael Pacheco Marinho, militante da FEP, disse que o objetivo do “esculacho” é evidenciar que a ditadura brasileira não foi só militar, mas sim “civil-militar, já que contou também com o apoio da sociedade civil e de empresários que foram colaboradores diretos das políticas de repressão e terror de Estado. Há empresas que financiaram centros de repressão, como a Oban, em São Paulo”. As reuniões de coleta financeira, lembrou, eram organizadas pela Fiesp e coordenadas pelo então ministro da fazenda Delfim Netto.
“Símbolo da ditadura”
Ao microfone, o deputado Adriano Diogo (PT), ex-preso político e presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, citou empresas colaboradoras da ditadura, sendo seguido pelos manifestantes, que repetiam, em coro: “Supergel, Cobrasma, Mercedez Benz, Volkswagen. Elas financiaram o golpe, acompanharam sessões de tortura com o Boilesen e o Dr. Geraldo. A Fiesp é o símbolo da ditadura”.
No ano passado, um documento do Arquivo Público do Estado de São Paulo revelado pela Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva” demonstrou a presença constante do empresário Geraldo Resende de Mattos, da Fiesp, na sede do Dops paulista.
Também presente ao ato, a ex-presa política Amelinha Teles, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, destacou a importância de lembrar, 50 anos depois do golpe militar, “o papel preponderante dos empresários, não só no golpe, mas no financiamento, apoio político e logístico na consolidação da ditadura. Eles financiaram centros clandestinos de tortura não só em São Paulo. Ela defendeu que a Fiesp peça perdão ao povo brasileiro, “pelo apoio ao golpe e à tortura”.
Os manifestantes também entraram na agência do Itaú localizada na avenida Paulista, onde entregaram panfletos e tentaram conversar com as pessoas que estavam na fila, mas foram colocados para fora pela segurança da instituição.
Colagem
O esculacho popular teve início na noite da terça-feira, 8, quando militantes da FEP saíram às ruas em torno da avenida Paulista e colaram – em postes, orelhões, pontos de ônibus e até em um posto da Polícia Militar – cartazes em que a participação da Fiesp e do Itaú no apoio à ditadura é denunciada.
A FEP lembrou, ainda, a participação de outras empresas no financiamento à repressão política, como Ultragaz, Volkswagen, Odebrecht, Ford e General Motors, assim como meios de comunicação, como as Organizações Globo e o Grupo Folha.
A Frente de Esculacho Popular, formada no início de 2012, é uma organização composta por familiares de vítimas da ditadura e ativistas de direitos humanos em geral. Tem como principal linha de ação a realização de esculachos, protestos que têm como objetivo denunciar os colaboradores da ditadura militar, seja pessoas ou empresas, como forma de pressionar por sua punição na Justiça. De acordo com a organização, “a FEP acredita que somente acabando com a impunidade do passado é que se pode acabar com os crimes do presente: ainda hoje, tortura-se e mata-se nas periferias das cidades do país”.
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