domingo, 9 de março de 2014

Os impactos econômicos para EUA, UE e Rússia da crise na Ucrânia O impacto econômico da crise pode ser uma das cartas mais fortes na mesa de negociações para evitar uma escalada militar da crise envolvendo a Ucrânia.

Os impactos econômicos para EUA, UE e Rússia da crise na Ucrânia

O impacto econômico da crise pode ser uma das cartas mais fortes na mesa de negociações para evitar uma escalada militar da crise envolvendo a Ucrânia.

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Marcelo Justo
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Londres - A presença do Secretário de Estado John Kerry na capital ucraniana, Kiev, e reunião em Madri da representante de relações exteriores da União Europeia, Lady Catherine Ashton, com o chanceler russo Sergei Lavrov, e a coletiva de imprensa do presidente Vladimir Putin foram os sinais mais claros de uma tentativa de desativar a bomba relógio em torno da Crimeia, a região ucraniana que, segundo a BBC, permanece “virtualmente ocupada pela Rússia”. O impacto econômico da crise pode ser uma das cartas mais fortes. Nem a Rússia, nem os Estados Unidos, nem a União Europeia estão interessados em um confronto que lance por terra a frágil recuperação econômica mundial. A Carta Maior conversou com David Dalton, editor para assuntos da Europa do Leste da unidade de inteligência da revista The Economist, sobre as possibilidades de uma resolução pacífica da situação.

A coletiva de imprensa do presidente Vladimir Putin sinaliza que estamos mais perto de uma resolução do conflito?

David Dalton: Creio que com seu estilo próprio e sempre mirando o seu público doméstico, Putin apontou para a possibilidade de um acordo em meio a uma série de declarações contraditórias. Por um lado, falou que não tolerará uma situação inconstitucional como a que, na sua avaliação, está ocorrendo, e, por outro, que são os ucranianos que têm que solucionar seus próprios problemas internos. Disse que o ex-presidente Viktor Yanukóvich está totalmente desacreditado, mas ao mesmo tempo reivindicou um acordo com a União Europeia, firmado em 21 de fevereiro, que tinha como ponto central a permanência de Yanukóvich no poder.

Ele se reservou o direito de intervir na Crimeia, mas insistiu que os ucranianos têm que resolver os seus próprios problemas. Por este lado, não fica muito claro qual é a posição de Putin, que está mudando dia a dia. Mas, de certo modo, pode-se dizer que Putin estava oferecendo um acordo condicional à realização de eleições, e à não perseguição da população do leste do país e dos dirigentes mais pró-russos. Neste caso, consideraria que a situação não é ilegítima. Neste momento, parece que nem Estados Unidos nem União Europeia podem pressioná-lo a ir além desse ponto.

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Se a via diplomática não está muito clara, em nível econômico é evidente o impacto da crise não só na Rússia e Ucrânia, como no preço das commodities em nível mundial. Esta semana o trigo alcançou seu valor máximo em 17 meses enquanto que o milho atingiu sua mais alta cotação desde setembro; o gás aumentou 10% nesta última segunda-feira. Tudo isso pode ser uma razão para se chegar a uma solução?

David Dalton: A realidade é que, apesar de toda a retórica dura de ambas as partes, Rússia e Ocidente estão muito interconectados hoje. A Rússia fornece 30% do gás que a Europa consome. Além disso, a posição mais negociadora adotada por Alemanha e Reino Unido se deve ao fato de que a Alemanha depende do gás russo e que a city de Londres valoriza muito os investimentos russos. Se somarmos a isso a alta dos preços do milho e do trigo, vemos o peso econômico da atual crise. A União Europeia está em uma situação econômica muito difícil e do que menos precisa agora é de uma pressão inflacionária a uma alta internacional dos preços dos alimentos. Uma perturbação no abastecimento de gás seria igualmente preocupante. Como temos visto até agora basta a ameaça de ocorrer algo para que já ocorra muito ruído em torno destas variáveis. Se a crise se aprofundar com uma escalada militar, o impacto será global.

A própria Rússia também foi afetada por essa situação. O rublo experimentou uma forte queda em relação ao dólar, a bolsa despencou e o Banco Central russo foi obrigado a aumentar as taxas de juros. Para não falar da Ucrânia que está em virtual bancarrota. Ao menos, em nível econômico, ninguém parece se beneficiar com uma escalada da crise.

David Dalton: As medidas que a Rússia teve que adotar têm um impacto recessivo na economia, ainda que, por outro lado, a alta do gás e do petróleo provocada pela crise seja boa para a Rússia cuja economia se baseia nestes dois produtos. Mas a Rússia precisa de investimentos hoje e uma situação como a atual não é a ideal para atraí-los. Além disso, os países da União Europeia têm reservas de gás maiores que no passado, o que faz que um país como a Alemanha tenha uma capacidade armazenada capaz de cobrir dois meses de demanda e os países da Europa Central um armazenamento de três meses.

Quanto a Ucrânia, a situação é de fato crítica. O país tem vencimentos da dívida da ordem de 13 bilhões de dólares este ano e de 16 bilhões para o próximo ano. A Rússia suspendeu a ajuda de 15 bilhões para evitar uma moratória, de modo que a Ucrânia terá que buscar a ajuda do FMI. Tudo isso influi, creio, para que haja uma solução pacífica.

Mas sempre é preciso um elemento político-diplomático para realmente afastar o perigo de uma guerra. Em sua coletiva de imprensa, o presidente Putin se mostrou disposto a dialogar com a ex-primeira ministra da Ucrânia, Yulia Tymoshenko, libertada logo após a queda de Viktor Yanukóvich. Esta pode ser uma saída?

David Dalton: É possível que os dois possam dialogar. O problema é que Tymoshenko é parte do velho sistema, da oligarquia ucraniana que se formou após a queda da União Soviética. Isso não será aceitável para os manifestantes que enfrentaram a polícia e que a vem como alguém similar ao presidente deposto Viktor Yanukóvich. Com sorte, a União Europeia pode discutir com a Rússia e a Ucrânia uma fórmula que sirva a todos. Uma opção que esteve sobre a mesa há dois meses era uma associação de livre comércio entre a União Europeia e a Rússia. A União Europeia rechaçou essa possibilidade por razões, a meu juízo, espúrias. Creio que é fundamental que a Rússia tenha um interesse concreto em um sistema que funcione para o benefício de todos.
com informações de Carta Maior
 
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer