sábado, 28 de junho de 2014

Fernando Brito: Sobre a inconsistência de pesquisas recentes

Fernando Brito: Sobre a inconsistência de pesquisas recentes

publicado em 21 de junho de 2014 às 10:16
Pesquisas para todos os gostos e desgostos
19 de junho de 2014 | 12:34 Autor: Fernando Brito
O “mercado” das pesquisas de mercado, digo, de intenção de voto para presidente perdeu seus últimos resquícios de pudor.
Como nada tem coerência, todo mundo pode comemorar os resultados da Ibope/CNI divulgada hoje.
Dilma, por exemplo, melhora porque piora ou piora porque melhora?
Sua intenção de voto sobe, sua aprovação diminui.
Sua rejeição dá um salto, mas num segundo turno, sua distância para os principais adversários sobe também num pulo.
Sobre Aécio, passa de 9 para 13 pontos e, diante de Eduardo Campos, de 11 para 16%.
E a rejeição de Aécio e de Campos, que pulam, respectivamente, de 18 para 32% e de 13 para 33%!
Em apenas uma semana, desde a marotíssima pesquisa Ibope “encomendada” pela insuspeitíssima “União dos Vereadores de São Paulo”!
Não me consta que algum dos dois tenha atropelado uma criancinha…
O que fica de concreto, para mim, a atribuir-se alguns gramas – poucos, fique claro – de credibilidade aos números.
1) Eduardo Campos vai ser devolvido ao que tem, algo como seis ou sete por cento do eleitorado e Lula está certíssimo em deixar que não se criem obstáculos para que suas perdas fluam para a conta de Dilma.
2) Não há processo de queda configurado em relação a Dilma Rousseff, embora ela não colabore em nada, com seu jeitão mal-humorado, para isso.
3) A polarização só não é mais evidente por conta da fraqueza de Aécio Neves que, não obstante, vai crescer até a faixa dos 30%, no horizonte visível.
4) De novo, teremos um primeiro turno decidido no photochart, por mais ou menos um ou dois por cento dos votos.
5) O “não vai ter copa”, o “caos que não houve” e a vaia VIP, se tiveram algum efeito, foi o de desqualificar a oposição.
Há dois fatores que, ainda, não mostraram seu peso neste processo.
Um é Lula e sua capacidade de comunicação com o povão.
Outro é o declínio do processo de aceleração inflacionária que marcou o final do ano passado e o início de 2014 e que, apesar da mídia, vai começar a ser percebido, embora ao custo de uma perda imensa para a economia brasileira.
Não que isso vá fazer alguma diferença na direita radicalizada e insensível.
Aquela que está no bem-bom da área vip deste país e, não obstante, vaia com toda a ferocidade.
Ele inventou a militância direitista e extremista
PS do Viomundo: A Copa bem sucedida ajuda a candidatura de Dilma Rousseff, especialmente se ela insistir no lembrete das previsões catastróficas que foram feitas anteriormente e se o Brasil for campeão. Por outro lado, teremos em 2014 uma novidade no Brasil. Através dos múltiplos canais de mídia a que tiveram acesso no Brasil ao longo dos últimos anos, os comentaristas do instituto Millenium conseguiram arrebanhar um número suficientemente grande de militantes para ter impacto eleitoral através da disseminação de suas opiniões em redes sociais.
É um fenômeno muito parecido com o que se observou nos Estados Unidos, nos anos 80, quando o Partido Republicano finalmente conseguiu militantes para bater de porta em porta e convencer as pessoas a votar: eram evangélicos convencidos de que, se Reagan não fosse eleito, satanás ocuparia a Casa Branca para destruir a família norte-americana (era a reação aos direitos civis dos negros, às feministas, à AIDS e ao que viam como ‘libertinagem’ dos democratas).
Depois disso, os neocons ganharam muita força em aliança com a direita religiosa. Eles, neocons, tiveram seu pensamento disseminado através do dinheiro grosso de corporações que organizaram institutos em Washington, fundaram revistas e arranjaram emprego para seus intelectuais na mídia ou no governo. Lá na frente, em Bush Jr., a aliança neocons + direita religiosa finalmente chegou à Casa Branca com um candidato puro sangue.
No Brasil, o esforço reacionário é bem parecido, já que representa profunda reação emocional à ascensão dos “diferentes”. É racismo sob outra forma, no qual “Lula” quer dizer, no inconsciente, “nordestino vagabundo que vive de migalhas do governo”. Aqui, igualmente, agora temos uma parcela significativa da classe média que milita apaixonadamente contra o PT. Não só vai votar contra, como vai tentar convencer os outros a fazerem o mesmo. Por isso, é correta a tática do PT de denunciar o discurso do ódio, que provoca repulsa do eleitor médio.Do Viomundo